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Feliz dia de luta, professores e professoras

Escrito po: Rosane Bertotti

15/10/2021

Antonieta de Barros (1901-1952) nasceu em Florianópolis, era professora e jornalista. Ela foi a primeira mulher parlamentar negra do Brasil. Assumiu o mandato popular na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em 1934. Lutava pela emancipação feminina, pela educação como um direito de  todos e pela valorização da cultura negra. 
 
Foi Antonieta Barros a autora  da lei estadual nº 145, de 12 de outubro de 1948, que instituiu o dia do professor e o feriado escolar no estado de Santa Catarina. Em 1963, o presidente João Goulart oficializou a data para todo o país.
 
Neste centenário de Paulo Freire, patrono da educação no Brasil, e nesse cenário pandêmico toda a sociedade brasileira percebeu a importância do trabalho dos professores, do direito à educação pública, universal, gratuita e de qualidade.
 
As crianças, adolescentes e universitários isolados, assistindo aulas remotas, sem poder se encontrar, socializar sentiram saudades do ambiente da sala de aula, sentiram saudades de seus professores de interagir com eles e com seus colegas.
 
Uma pesquisa inédita realizada em 18 estados brasileiros, coordenada pela professora Socorro Nunes, sobre ensino remoto na pandemia, focando o estudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que envolveu 117 pesquisadores de 29 universidades brasileiras mostrou a dedicação da imensa maioria de professoras alfabetizadoras e negras.
 
A investigação detalha o cenário de exclusão de alunos e dificuldades no ensino remoto: cerca de 71,58% das professoras entrevistadas (90% da amostra da pesquisa são mulheres e em sua maioria negras), relatam que a sala de aula na pandemia se reduziu à tela de um celular com formação de turmas no WhatsApp.
 
Isso nos diz muito sobre os profissionais da educação, o quanto se desdobraram para não perder seus alunos, para que de alguma forma, mesmo que fosse por um áudio no whatsapp as crianças tivessem algum contato com a rotina escolar.
 
Nos outros níveis de ensino não foi diferente. Professoras e professores da noite para o dia tiveram de aprender a utilizar plataformas digitais, editar vídeos e produzir outros materiais didáticos para tentar assegurar o aprendizado de seus alunos. A carga horária no home office dobrou, triplicou a jornada especialmente das educadoras mulheres e em muitos casos sem equipamentos adequados (mesa, cadeira ergonômica, computadores e acesso a banda larga).
 
Não é gratuito que uma professora negra nascida na ilha do Desterro, tivesse como bandeira política o direito à educação e vislumbrasse na educação um processo libertador e de construção da cidadania. Nas décadas de 20 e 30 Santa Catarina e São Paulo com grande população de imigrantes eram ainda assim os estados com maior número de alfabetizados e o índice de analfabetismo no estado era de 65%!
 
Talvez pelo mesmo motivo tenha sido um governo popular que 30 anos depois tornou a data de celebração aos educadores uma data nacional. Lideranças e governos progressistas têm compromisso com a educação.
 
"Foi uma conterrânea, deputada negra de Santa Catarina, que criou um dia para celebrar os educadores e, posteriormente, em 1963, o governo popular de João Goulart nacionalizou a data que celebramos até hoje: o dia do professor, dia da professora."
- Rosane Bertotti
 
 
Mas, a desnível educacional do Brasil é imenso. Mesmo com os avanços de investimentos na educação pública no Brasil nos governos progressistas de Lula e Dilma, ainda temos um grande número de brasileiros e brasileiras excluídos do direito à educação. Recentemente debati com o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues no programa Fórum Sindical (https://www.youtube.com/watch?v=k0fryaJOxPU). Edmilson lançou um mutirão de alfabetização onde pretende alfabetizar 11 mil belenenses por ano até 2024 com vistas a erradicar o analfabetismo na cidade.
 
Na outra ponta, o governo Bolsonaro de extrema-direita, autoritário, insensível e que deliberadamente trabalhou para ampliar o contágio da Covid-19 noite e dia trabalha contra a educação, contra a pesquisa científica e a autonomia das universidades, além da famigerada escola sem partido e de outros retrocessos educacionais em nível municipal e estadual que ferem a autonomia de cátedra.
 
Mas há resistências. Bolsonaro foi obrigado a engolir a aprovação do FUNDEB pelo Congresso Nacional, fruto de uma ampla mobilização dos profissionais da educação. Bolsonaro faz de tudo para descumprir a lei de financiamento da educação, além dos cortes astronômicos na pesquisa científica.
 
Neste 15 de outubro temos a celebrar a resistência dos professores e professoras que após o golpe e o esvaziamento do Conselho Nacional de Educação criaram a CONAPE a Conferência Nacional Popular de Educação, um fórum popular de resistência.
 
Se desejamos um país soberano, temos de nos comprometermos com a defesa da educação pública, do profissional da educação e dos docentes. Temos de nos juntar à luta contra a PEC 32, que aliada a EC95 do ilegítimo Temer, colocaria a pedra final no túmulo do direito à educação pública, universal, gratuita e de qualidade.
 
A Rede de Formação da CUT celebra  o 15 de outubro com toda nossa disposição de luta e solidariedade. Que a pedagogia do Oprimido do mestre Paulo Freire siga a nos inspirar na luta e no esperançar: "Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente (...) no mundo, com o mundo e com os outros."
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