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Ciclo vicioso: ajuste fiscal vai forçar mais ajuste

21/05/2015

Para economistas, cenário de recessão foi criado a partir da vitória de Dilma nas últimas eleições e precisa de resposta mais firme da esquerda

Escrito por: Luiz Carvalho


No dia em que diversas organizações, entre as quais a CUT, divulgaram um manifesto por mudanças na política econômica de ajustes fiscais, o PT promoveu um debate com economistas para apontar um antídoto ao receituário neoliberal que tomou o governo de assalto.

Com críticas à incapacidade do partido de apresentar uma posição clara sobre os rumos econômicos, que permitiu a adoção de um modelo que contradiz o modelo de desenvolvimento adotado desde 2005, os economistas apontaram que a crise é resultado direto de um clima de recessão criado a partir das últimas eleições.

Para o ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin o Brasil da última década deixou a posição de devedor para credor internacional e comparou a relação dívida-PIB (Produto Interno Bruto) do final de 2001 (62,9%) com a situação em dezembro de 2014 (36,7%) para defender que a crise fiscal é algo a ser questionado.

“A situação fiscal é invejável e não é necessário e nem recomendável uma política de redução do crescimento do ponto de vista fiscal. O país tem de voltar a priorizar o crescimento e investimento econômico e o primeiro passo é mudarmos a política monetária contracionista, que já tem custo fiscal muito alto, mas vai aumentar a dívida pública”, disse.  

De acordo com o Augustin, num sistema em que o Estado é fundamental para o crescimento, porque o sistema financeiro pratica altas taxas para empréstimo e cria enorme dificuldade de investimento no setor privado, os ajustes fiscais levarão a novos ajustes.

“É um ciclo vicioso que gera necessidade de novos ajustes e não preparação para crescimento futuro”, disse.

Assinar carteira é melhor do que ajuste

Para a pesquisadora do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp, Marilane Teixeira, tão ou mais eficiente que os ajustes fiscais seria inserir formalmente os trabalhadores no mercado de trabalho.

“O impacto econômico dos ajustes das MPs (medidas provisórias) 664 e 665 é comparável ao incremento à economia que o registro de 18, 19 milhões de trabalhadores traria em torno de R$ 60 milhões ao ano”, disse.

Cientista político e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Juarez Guimarães ressalta que a disputa pelo modelo de desenvolvimento é um embate pela hegemonia política e para definir  a quem será destinado o país.

[SAIBA_MAIS]A disputa pelo Poder é também a captura de mecanismos importantes da macroeconomia, como o Banco Central num processo de formação de opinião a partir de um oligopólio de mídia que deturpa a informação.

“No primeiro governo Dilma tínhamos crise econômica internacional, mas um Banco Central que chamava para a direita e a Fazenda tentando defender política desenvolvimentista. Agora, a política econômica internacional é de direita, o BC é de direita e a Fazenda mais ainda”, ressaltou. “Você não faz ajuste quando a economia cai, porque quando a economia cai, a receita também”, definiu.

Sem reformas, sem base

A ausência de reformas importantes, como a política e a agrária, destacadas pelo representante da Plataforma Política Social e da Unicamp Eduardo Fagnani, fez com que o tripé econômico (metas de inflação, cambio flutuante e Banco Central independente) continuasse a nortear uma política econômica que interdita o processo de crescimento.

Com isso, deu fôlego a retomada de uma visão neoliberal que enxerga na retirada de direitos o caminho para ampliar a competitividade, conforme ressaltou o cientista político e professor da USP André Singer.

“A redução da renda vai reduzir salários e é esse o objetivo do ajuste fiscal. A proposta de fazer reajuste recessivo até reduzir emprego resultará na redução do custo do trabalho e o argumento dos economistas liberais é que, caso contrário, o Brasil não será competitivo.  É importante ter claro o que está em jogo.”

O caminho, defendeu, é reindustrializar o Brasil para distribuir renda, como aconteceu com o governo Lula, com ganhos reais para a classe trabalhadora. Do contrário, caso seja mantida a política recessiva, os efeitos podem ser trágicos.

“Não sabemos a profundidade que esse processo recessivo pode atingir, porque quando um processo como esse é deflagrado, ninguém sabe o que vai acontecer.”

 

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